domingo, 15 de abril de 2012

As minhas leituras: "Quando Lisboa tremeu"


No dia de todos os santos do ano 1755, Lisboa sofreu uma das grandes tragédias da História da Europa. Um grande terramoto e o posterior “tsunami” arrasaram a cidade. Morreram entre dez e cinquenta mil pessoas e uma grande parte dos prédios, ruas e os lugares da capital abanaram-se.

A vaga do terramoto atingiu ainda até a cidade da Salamanca, onde até hoje é possível vermos os efeitos na torre de Sé velha da cidade.

Este acontecimento, que provocou um enorme impacto na Europa da época (conta-se que Voltaire mudou muitas das suas posições ideológicas após ele ter conhecido as informações da tragédia) é o marco do romance “Quando tremeu Lisboa”, do Domingos Amaral. O relato corre da mão de um personagem principal (O pirata Santamaría) e mais outras quatro personagens que vão encontrar-se no meio da tragédia. Até este momento só li uma terça parte do romance. No entanto, está a ser para mim uma boa leitura. Se vocês hesitaram de começar a lê-la o não, deixo-lhes um fragmento do livro. Trata-se da descrição das atitudes e as ações dos lisboetas que o autor faz na página cento e sete do livro:

"Aqueles foram dias terríveis, dias em que perdemos os nossos gestos e os nossos pensamentos mais bondosos; dias em que o imperativo da sobrevivência e a presença constante do sofrimento e da morte nos alteravam, nos faziam praticar atos desagradáveis e até injustos o criminosos; dia em que as regras se suspenderam e vieram ao de cima as vontades mais primitivas de cada um, o seu lado irracional, os seu medos e as suas raivas; dias em que deixámos de ser humanos e nos tornámos praticamente animais, sem razão ou compaixão, onde tudo o que queríamos era fugir e viver, e para isso faríamos o que fosse preciso, mesmo que horrível. Apesar de todos falarem de Deus, aqueles foram os dias em que deus abandonou as pessoas e as deixou totalmente sós no confronto com uma natureza brutal. Nesses dias, fomos como os primeiros seres que existiram na terra, há muitos e muitos anos, antes de no mundo haver sabedoria ou cortesia ou solidariedade."

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